Um retrato realista do que se passa hoje no México, país que tem ocupado as páginas do noticiário internacional com trágicos episódios de violência resultantes da guerra com o narcotráfico, é o que será apresentado na mesa México e América do Norte no contexto do Nafta durante o 1º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado em agosto.
A coordenação da mesa vai estar a cargo do economista mexicano Arturo Guillén, professor da Universidade Autônoma Metropolitana Iztapalapa (UAMI) e pesquisador visitante do Centro Celso Furtado. Seu irmão, o também economista Hector Guillén, da Universidade de Paris VIII, e seu colega no Departamento de Economia da UAMI Gregorio Vidal, que também tem trabalhos publicados nos Cadernos de Desenvolvimento do Centro, serão os outros dois palestrantes do tema.
Com perspectivas complementares, os três vão discorrer sobre as consequências do modelo econômico dominante no México desde 1982, com a crise da dívida externa, coroado nos anos 1990 pela assinatura do Tratado de Livre Comércio Norte-Americano, o NAFTA, que consolidou o modelo neoliberal de economia aberta e atrelou os destinos da economia mexicana ao desempenho da economia dos Estados Unidos.
O objetivo da mesa, segundo Arturo Guillén, será analisar a economia mexicana como um caso paradigmático dos efeitos anti-crescimento, de desarticulação dos sistemas produtivos e desestabilizadores de políticas públicas inspiradas pelo Consenso de Washington.
“Vamos expor os resultados desastrosos do tratado e as debilidades estruturais do nosso país ressaltadas pela crise americana. O que se vê no México são altíssimos níveis de desigualdade social, uma forte imigração para os Estados Unidos e um profundo processo de desintegração social. A guerra declarada pelo governo contra o tráfico, numa estratégia de legitimação interna e com os Estados Unidos, já deixou mais de 50 mil mortos. Nem sequer de crescimento econômico se pode falar. Trata-se de uma potência exportadora com economia estagnada”, diz Arturo Guillén.
De acordo com ele, os principais obstáculos à implementação de uma estratégia alternativa de desenvolvimento no México, orientada para o crescimento sustentável com equidade, são políticos e residem na dominação do poder político por uma oligarquia financeira sem nenhum compromisso com um projeto nacional.
“A crise global vai aprofundar ainda mais a estagnação da economia no México. Queremos discutir o que está se passando por lá e propor políticas alternativas a esse modelo. É preciso renegociar o tratado e aplicar políticas autônomas à margem dele, que visem o fortalecimento do mercado interno, a equidade social e a uma mudança nas relações com a economia americana. Mas o problema é, sobretudo, político”, explica o professor mexicano.