A importância da inovação para o desenvolvimento, que voltou a ganhar destaque no debate econômico, será tema da mesa organizada pelo professor José Eduardo Cassiolato, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, para o 1º Congresso do Centro Celso Furtado.
Cassiolato conta que a ideia da mesa surgiu da constatação de que, apesar de o tema ser tratado quase como um consenso atualmente, o debate sobre ele é marcado por um viés neoclássico e neoliberal da inovação e da tecnologia. Enquanto as importantes contribuições dos autores estruturalistas latinoamericanos para o entendimento da relação entre progresso técnico, dinamismo econômico e distribuição de renda ficaram esquecidas.
O painel Inovação e Desenvolvimento: os elos entre o estruturalismo latinoamericano e a corrente evolucionista, proposto pelo professor, vai justamente estabelecer pontos de conexão entre essas duas visões. “Nossa proposta é, nessa mesa, trazer economistas que transitam entre as duas correntes, pertencentes a distintos e relevantes centros acadêmicos nacionais, para que apresentem contribuições que permitam criar elos de pensamento entre elas”, explicou.
Entre as contribuições dos estudiosos latinoamericanos, Cassiolato destaca pontos como a diferença de dinamismo tecnológico entre as atividades econômicas; a importância da internalização do setor de bens de capital para o desenvolvimento econômico; o impacto desfavorável do progresso técnico na geração de emprego; e o controle que as grandes empresas dos países desenvolvidos exercem sobre o processo de transferência de tecnologia, dentre outras.
“Muito dessas contribuições foram esquecidas, apesar da crescente atualidade do tema da inovação para países em desenvolvimento. A corrente evolucionista se destaca, na atualidade, como sendo a que tem atraído maior interesse e análise entre os estudiosos da inovação. No nosso entender, são muito importantes os pontos de convergência entre as duas correntes”, lembra o professor.
A preocupação da mesa, de acordo com ele, será tentar trazer para o período atual questões vistas pelos quatro participantes como fundamentais no pensamento estruturalista latinoamericano, e em particular, no de Celso Furtado. “Vamos resgatar o que desse pensamento permanece atual , como a preocupação com a introjeção do progresso técnico nas nossas economias, com a adoção de tecnologias adaptadas às nossas especificidades, em detrimento de uma simples cópia de modelos externos”, explicou Cassiolato.
A sustentabilidade, a seu ver, é um bom exemplo disso: “o Brasil tem imensas particularidades que poderiam ser tratadas com desenvolvimento tecnológico próprio, mas ainda continuamos, no mais das vezes, copiando modelos do exterior. A China, muito mais do que nós, tem seguido os ensinamentos de Celso Furtado com respeito a isso”, disse.
Além de José Eduardo Cassiolato, vão compor a mesa os economistas André Tosi Furtado, professor da Universidade de Campinas; Eduardo da Mota e Albuquerque, da Universidade Federal de Minas Gerais; e Paulo Fernando de Moura Cavalcanti, da Universidade Federal da Paraíba. A mediação ficará a cargo da economista Helena Lastres, também professora da UFRJ e atualmente assessora da presidência do BNDES.