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Deepak Nayyar fará a palestra inaugural do congresso


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Como o senhor travou contato com a obra de Celso Furtado e o que destacaria nela?

- Eu li o trabalho de Celso Furtado pela primeira vez em meados dos anos 1960 quando eu era estudante de graduação de economia na Universidade de Déli. E continuei em contato com sua obra como aluno de pós-graduação na Universidade de Oxford no final da década de 60. Foi a perspectiva histórica do subdesenvolvimento que achei mais interessante. Mais de três décadas depois, em agosto de 2000, fui convidado para falar numa conferência em Recife, em homenagem aos 80 anos de Celso Furtado, na qual tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, o que foi muito gratificante.

Nos anos 50 e 60, foi decisiva para o Brasil, e para vários outros países da América Latina, a influência das ideias da Cepal em torno da necessidade da industrialização dos países da periferia como caminho para a superação do subdesenvolvimento, visando a melhora dos termos do intercâmbio e a diminuição da dependência da exportação de produtos primários. Celso Furtado dizia que a Cepal foi a única escola de pensamento econômico a surgir na América Latina. A Índia tem também uma longa tradição de pensar os problemas do desenvolvimento. Houve alguma assimilação do pensamento cepalino na Índia?

- Havia fortes semelhanças entre o Brasil e a Índia no pensamento sobre estratégias de desenvolvimento durante os anos 50 e 60. O foco na industrialização era o ponto comum essencial. Pode haver pouca dúvida de que a tradição intelectual da Cepal, articulada por Raul Prebisch e Celso Furtado, exerceu influência no pensamento sobre políticas de comércio, substituição de importações e industrialização na Índia daquela época. Mas essa abordagem foi a ponto principal da estratégia de desenvolvimento na Índia independente, pós-colonial. Ela se refletia na maneira de conduzir o planejamento e as políticas econômicas, em particular na esfera do comércio, indústria e tecnologia adotada na Índia. A ênfase no setor de bens de capital também foi parte importante desse processo. Os paralelos vieram tanto do fato de se pensar em termos dos respectivos contextos nacionais quanto através do aprendizado mútuo. Há também uma tradição estruturalista de se pensar sobre macroeconomia e sobre desenvolvimento que é comum aos dois países.

Como o senhor resumiria brevemente o quadro econômico e social da Índia hoje? Quais seriam seus problemas mais prementes a enfrentar? Inversamente, quais foram os avanços recentes que o país conquistou?

- A performance econômica da Índia nas últimas seis décadas é impressionante quando situada numa perspectiva histórica e comparada com os 50 ou 100 anos precedentes. Isso se reflete nas taxas de crescimento do PIB e do PiB per capita combinado com avanços significativos nos indicadores sociais de desenvolvimento. O ritmo e a extensão da industrialização também é impressionante. Ainda assim, a Índia tem muitas milhas a percorrer no caminho do desenvolvimento se entendido como o bem-estar da população. O número e a proporção de pessoas vivendo na extrema pobreza é muito grande. O rápido crescimento econômico nos últimos 30 anos também levou a um aumento estável na renda per capita, mas isso apenas em termos aritméticos. Esse crescimento não se transformou em desenvolvimento em termos de melhoria das condições de vida das pessoas comuns em parte porque não foram criadas suficientes oportunidades de emprego e também porque a liberalização econômica teve consequências distributivas. Os  maiores desafios que confrontam a Índia no médio prazo são a crise na agricultura, a infraestrutura inadequada e o pequeno alcance da educação na sociedade. No curto prazo, há restrições na economia, refletidas nos desequilíbrios macroeconômicos, na inflação persistente e nos crescentes déficits em conta corrente, assim como há problemas políticos que se traduzem em crise de governança.

O senhor poderia nos adiantar quais serão os principais temas de sua palestra inaugural no 1º. Congresso Internacional do Centro Celso Furtado?

- O objetivo da minha palestra é analisar a evolução dos países em desenvolvimento na economia mundial situada num contexto histórico mais amplo, a partir do começo do segundo milênio, mas com foco na segunda metade do século 20. Ao fazer isso, proponho – e tento responder – algumas questões pouco exploradas. As diferenças entre países em desenvolvimento e industrializados remontam a um passado distante? Se não, quando os países e continentes, hoje descritos como o mundo em desenvolvimento, terminam seu longo período de dominação para começar a declinar e cair? Até onde a recuperação econômica dos países em desenvolvimento, desde 1950, representa uma equiparação em termos de industrialização e desenvolvimento? Qual é a extensão dessa equiparação em comparação com o passado? E de que maneira é distribuída entre países e pessoas no mundo em desenvolvimento? Existe algo a aprender do passado em termos do futuro? Ao endereçar essas questões, a palestra traça as mudanças na importância econômica da África, Ásia e América Latina (agora descritas como mundo em desenvolvimento) em comparação com Europa Ocidental, Europa Oriental, América do Norte e Japão (hoje apresentados como mundo industrializado) numa perspectiva histórica de longo prazo. Ela examina as mudanças no significado dos países em desenvolvimento na economia mundial, durante a segunda metade do século 20. Considera o engajamento dos países em desenvolvimento com a economia mundial, desde 1950, com um foco no comércio, investimento e migração internacionais, traçando algumas comparações com o passado. Delineia os contornos de sua equiparação em industrialização, discernível nas últimas três décadas, para mostrar que muito dessa equiparação no resultado final, comércio internacional e produção industrial é atribuível para cerca de uma dúzia de países. Argumenta que o crescimento observado, que tem sido rápido, muitas vezes não tem se traduzido em desenvolvimento significativo porque há uma exclusão de países e pessoas, que se reflete no crescente hiato não apenas entre países em desenvolvimento e países industrializados, mas também entre países do mundo em desenvolvimento. E, por fim, a palestra explora cenários futuros para os países em desenvolvimento, em termos de determinantes e restrições, situados num contexto mais amplo da economia mundial, para realçar o que precisa ser feito para se chegar a uma real transformação.
 






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