Um painel de oportunidades para que o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães tenha a possibilidade de falar, de forma mais aprofundada, do relatório (leia aqui a íntegra do documento) que apresentou ao Conselho de Ministros do Mercosul, antes de resolver deixar o posto de Alto Representante Geral do bloco, em 28 de junho passado. Essa será, na visão da professora Ingrid Sarti, a tônica da mesa que ela vai coordenar no 1º. Congresso Internacional do Centro Celso Furtado, em agosto: Integração da América do Sul: desafios do desenvolvimento regional no século XXI.

“Lido com cuidado, o relatório do embaixador é um documento histórico. A mesa será uma oportunidade não só de se discutir a crítica que ele faz ao Mercosul, mas a sua avaliação do que é necessário ser feito como ajuste para que o Mercosul seja um instrumento efetivo de desenvolvimento regional. O documento sistematiza as ideias que motivaram a realização desse painel, de discussão de uma agenda de integração regional”, explicou Ingrid Sarti, doutora em Ciência Política e professora do Programa de Pós-graduação em Economia Política Internacional da UFRJ.

Ela conta que, quando propôs essa mesa para o congresso, no final do ano passado, o contexto era completamente diferente. “A ideia era sistematizar e aprofundar as discussões sobre a agenda da integração do continente que apresentava problemas sérios, mesmo tendo tido muitos avanços, depois de 20 anos de criação do Mercosul e de todo o empenho que houve, principalmente na segunda fase do governo Lula”, diz.

Com a crise recente no Mercosul, que culminou com a suspensão do Paraguai, decorrente da remoção de Fernando Lugo da presidência, e a entrada da Venezuela no bloco, o tema tornou-se extremamente candente, fazendo da mesa no Congresso do Centro Celso Furtado um palco privilegiado para o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães falar da agenda de integração sul-americana e expor os motivos que o levaram a se afastar do cargo que ocupava desde janeiro de 2011.

Dentre os temas que compõem essa agenda estão a importância de se contemplar e executar políticas enérgicas de combate às assimetrias dentro do Mercosul e a necessidade de se pensar um projeto de integração ampliada, com a participação de outros países além dos que já compõem o bloco. Projeto esse que discuta não apenas as questões comerciais , mas que seja de soberania e desenvolvimento para todo o continente.

“Esse é um projeto muito importante que busca dinamizar a economia desses países e possibilitar um outro arranjo que nos permita sair dessa enorme dependência do modelo do agronegócio no Mercosul. Trata-se de um projeto de investimento em infraestrutura, em energia, saneamento, transporte e comunicações, que seja a base para a formação de mercados locais e regionais, imprescindíveis para a redução da pobreza no continente. Trata-se, portanto, de um projeto político voltado para a promoção do desenvolvimento e da soberania regional”, disse Ingrid Sarti.

A professora da UFRJ também preside o Fórum Universitário Mercosul (FoMerco), composto de acadêmicos de todos os países da América do Sul. “Foi do Fórum que veio a sugestão de se pautar uma mesa no Congresso do Centro Celso Furtado sobre o tema da integração e suas dificuldades, muito presentes na vida acadêmica também. O fórum já havia identificado a necessidade de maiores aportes para a convergência estrutural do Mercosul, que já esteve mais presente na política externa brasileira. Existe, portanto, uma continuidade. O que está acontecendo agora, salvo a questão do lamentável rito sumário que afastou o presidente Lugo no Paraguai, remete a preocupações que já vêm há algum tempo na pauta dos debates,” esclareceu a cientista política.

Além do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, que é sócio fundador do Centro Celso Furtado, comporá também a mesa do painel Integração da América do Sul: desafios do desenvolvimento regional no século XXI o intelectual uruguaio Gerardo Caetano, diretor acadêmico do Centro de Formação de Integração Regional, o Cefir, e professor da Universidade de La República del Uruguay (Udelar).