Ainda que boa parte das mesas do I Congresso Internacional do Centro Celso Furtado seja dedicada a temas econômicos – fruto da própria formação de seus sócios, a maioria economistas –, propostas ligadas a outros campos científicos também se destacam no evento. É o caso das Ciências Sociais, contemplada na mesa Governo, Desenvolvimento e Equidade: Uma Agenda de Pesquisa para as Ciências Sociais no Brasil.
Tendo como participantes os cientistas políticos Bernardo Ricupero (USP), Marcos Costa Lima (UFPE e Presidente da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais – Anpocs), Ricardo Ismael (PUC-Rio) e Vera Cêpeda (UFSCar), a mesa reflete a própria evolução dos estudos sobre desenvolvimento, inicialmente muito marcados por questões econômicas e paulatinamente alargados para um escopo amplo que abrange noções como bem-estar social e desenvolvimento sustentável, dentre outras.
“Ao longo do tempo, no mundo e no Brasil, a ideia de desenvolvimento como crescimento econômico foi sendo questionada. Novas interpretações desenvolvimentistas, como aquelas de Amartya Sen, contestaram o caráter economicista empregado de forma recorrente na sociedade industrial. A partir desta perspectiva, o desenvolvimento foi se afirmando como tradução de crescimento econômico em bem-estar social, dando origem ao Índice de Desenvolvimento Humano no âmbito das Nações Unidas (IDH), ou como um meio para ampliação das capacidades de realizações das pessoas”, explicam os participantes da mesa ao justificar a pertinência do seu tema.
Segundo Ricardo Ismael, membro do comitê científico do Centro Celso Furtado, o próprio Centro entende a importância de se trazer para seu primeiro congresso a perspectiva das Ciências Sociais para o debate sobre desenvolvimento. “Celso Furtado já costumava dizer que desenvolvimento é a tradução de crescimento econômico em bem-estar social. O título da palestra, então, diz muito sobre isso. A dimensão governamental precisa ser estudada porque é ela quem implementa as políticas públicas e faz os ajustes necessários para que se chegue aos resultados esperados”, explica o cientista político.
“Por outro lado, o debate em torno do conceito e da mensuração do desenvolvimento renova-se com a questão da sustentabilidade, que introduz, entre outras questões, a difícil defesa dos direitos das futuras gerações sobre a preservação dos recursos naturais. Para não falar do fortalecimento da ideia de regulação do mercado e das ações sociais, por parte do poder público”.
Nesse sentido, afirma Ismael, os pesquisadores convidados para o Congresso vão tentar traduzir, dentro da perspectiva de seus estudos, o que as Ciências Sociais estão destacando como questões fundamentais a serem refletidas e discutidas neste momento em que se observa um novo ciclo desenvolvimentista no país.
“De uns três anos para cá, as Ciências Sociais começaram a dar espaço para esse eixo temático, o que pode ser constatado principalmente na Anpocs e também na ABCP (Associação Brasileira de Ciência Política), com um número crescente de pesquisadores debatendo e publicando trabalhos sobre desenvolvimento. A rigor, a ideia desta mesa no I Congresso do Centro Celso Furtado é estabelecer uma agenda de pesquisa para os próximos dez anos nas Ciências Sociais”, finalizou Ricardo Ismael.