A mesa-redonda de lançamento de Cadernos do Desenvolvimento n. 17 e n. 18, no dia 28 junho 2016, no auditório Pedro Calmon da UFRJ, reuniu Pierre Salama, emérito da Universidade de Paris 13 e entrevistado do n. 17 de Cadernos do Desenvolvimento; Roberto Saturnino Braga, diretor-presidente do Centro Celso Furtado e entrevistado de Cadernos do Desenvolvimento n. 18; os debatedores Ricardo Bielschowsky e Luiz Carlos Delorme Prado, ambos do Instituto de Economia; o diretor do IE, professor David Kupfer; e Rosa Freire d’Aguiar, do Conselho Deliberativo do Centro Celso Furtado.
Pierre Salama analisou o panorama europeu, partindo de quatro aspectos: (1) a estagnação muito antiga, talvez secular, resultante das novas tecnologias; (2) as desigualdades, de renda e outras, cada vez maiores, com a riqueza se concentrando, sobretudo, entre os 5% da população mais rica, o que resulta em boa parte da financeirização; (3) a precarização e/ou flexibilização do trabalho, que atinge sobretudo os mais jovens; (4) o novo fetichismo da “uberização” da economia, em que cada um passa a ser dono e ao mesmo tempo assalariado, empresário e trabalhador de si próprio, graças às novas tecnologias de comunicação. Os governos europeus estariam no dilema de seguirem o modelo inglês, de menos desemprego, menor engajamento do Estado, e maior precarização, ou o modelo francês, com desemprego maior e relativa manutenção de um Estado de bem-estar social. A seu ver, os partidos tradicionais não têm capacidade de responder à alternativa, e os movimentos sociais, que vão se fortalecendo nas redes virtuais, ainda não têm as alavancas de poder para mudar o quadro.
Outro ponto abordado foi a democracia. Para Salama, esta se submete atualmente à ordem suprema do “bom funcionamento das leis do mercado”. Quando vai tudo bem com o mercado, pratica-se a democracia. Do contrário, a “ordem suprema” acaba se impondo, conforme se viu por ocasião do referendo da Grécia, contestado em seguida pelos mercados. A seu ver, o debate hoje é em torno da democracia, que parece reduzida a mero instrumento.
A esse debate Roberto Saturnino Braga acrescentou a discussão sobre a dominação. Após um período em que diversos países sul-americanos tiveram governos de centro-esquerda ou de esquerda, até que ponto o Brasil e outros países do continente lograrão se afirmar e firmar como nações independentes diante de seus parceiros tradicionais do Primeiro Mundo, notadamente os Estados Unidos? Se as políticas sociais praticadas nos últimos anos foram “palatáveis”, pode-se dizer o mesmo, no caso brasileiro, das iniciativas que marcaram nossa política externa? Em especial a integração sul-americana, a Unasul, o Mercosul? E que dizer de decisões estratégicas como a exploração do pré-sal? Ou do aprofundamento da aliança com o bloco dos BRICS? Saturnino Braga concluiu apelando aos professores e pesquisadores presentes que incorporem à agenda acadêmica esse debate. (Rosa Freire d'Aguiar)
Lançamento dos Cadernos do Desenvolvimento:
17 (jul-dez/15)
18 (jan-jun/16)
28 de junho de 2016
Auditório Pedro Calmon - IE/UFRJ
Av. Pasteur, 250, 2º andar - Praia Vermelha
Rio de Janeiro - RJ.
Intérpretes do Pensamento Desenvolvimentista
Participação:
Pierre Salama
Prof. Emérito - Université Paris-13
Roberto Saturnino Braga
Diretor-presidente do Centro Celso Furtado
David Kupfer
Diretor do IE-UFRJ
Rosa Freire d’Aguiar
Conselho Deliberativo do Centro Celso Furtado
Debate com Luiz Carlos Delorme Prado (UFRJ) e
Ricardo Bielschowsky (UFRJ).
www.cadernosdodesenvolvimento.org.br