O Centro Celso Furtado divulga o lançamento, com editoria da professora Carmem Feijó, da décima quinta edição da revista Cadernos do Desenvolvimento. Confira o sumário.
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Editorial
É com satisfação que apresentamos a 15ª edição dos Cadernos do Desenvolvimento. Para este número trazemos, além de seis artigos aprovados por pareceristas, um ensaio do professor Wilson Cano, baseado no trabalho que ele apresentou no II Congresso Internacional do Centro Celso Furtado, realizado em agosto de 2014, e uma resenha do recente livro do professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, A construção política do Brasil. O entrevistado desta edição foi o brigadeiro Sérgio Xavier Ferolla, um nacionalista convicto, com relevantes contribuições prestadas para o desenvolvimento tecnológico do país, tendo exercido cargos de grande importância e destaque, como o de diretor do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) de 1989 a 1992, e o de ministro do Superior Tribunal Militar.
O primeiro artigo traz uma reflexão sobre políticas de ciência e tecnologia com base na experiência das redes de pesquisa da CT-Petro no Norte e no Nordeste. Esta experiência é analisada à luz das contribuições de Celso Furtado, que enfatiza a importância da interdependência das atividades produtivas na geração de ciência e tecnologia para a promoção do desenvolvimento econômico. O artigo conclui pela atualidade do pensamento de Furtado, para mostrar que os desafios enfrentados pela Petrobras na exploração de petróleo na camada do pré-sal podem se transformar em oportunidades para o desenho de políticas industriais mais ousadas, que busquem o desenvolvimento e a autonomia científica e tecnológica, tendo em vista a complexidade tecnológica, a diversidades de setores e o volume de recursos envolvidos.
O segundo artigo analisa as transformações estruturais da economia brasileira no período 1996-2009. Com base nas informações das tabelas de recursos e usos conclui a análise empírica mostrando que o país continua reproduzindo e ampliando características estruturais de elevada heterogeneidade na estrutura produtiva e especialização no comércio internacional, que comprometem sua taxa de crescimento de longo prazo.
O terceiro artigo recupera as contribuições de Fernando Fajnzylber que, à frente de uma série de pesquisas sobre o processo de industrialização de países avançados e os de industrialização mais recente, como os latino-americanos e asiáticos, nos anos 1970, apresentou insights pioneiros sobre o processo de industrialização sul-coreana.
O quarto artigo apresenta argumentos mostrando que Celso Furtado evolui sua teoria de desenvolvimento econômico e social para uma ciência do desenvolvimento que busca entender esse processo de forma ampla, influenciado pelos escritos de Max Weber.
O quinto artigo discute a forma como a teoria macroeconômica está sendo revista a partir do episódio da crise financeira internacional de 2008. Tomando os pontos centrais do debate atual, são destacadas as falhas da teoria econômica em prever a crise e os possíveis caminhos para a renovação da agenda de pesquisa em macroeconomia. O artigo defende, em contraposição à teoria econômica convencional, uma agenda de pesquisa apoiada na literatura pós-keynesiana que destaca o papel das instituições na regulação da economia.
O sexto e último artigo desenvolve um modelo econométrico para analisar o efeito do programa Famílias em Ação sobre as mudanças do consumo agregado na Colômbia. Os resultados do teste econométrico corroboram que o programa de renda condicionada ajuda a manter o consumo das famílias com menores volatilidades, atendendo assim a um de seus objetivos. Conclui também que as vantagens do Famílias em Ação são diminuídas pela importância residual do programa no orçamento público da Colômbia.
O ensaio do professor Wilson Cano, intitulado (Des)Industrialização e (Sub)Desenvolvimento, analisa a desindustrialização em marcha nos principais países desenvolvidos e em alguns subdesenvolvidos, com ênfase no caso do Brasil. Titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultor da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Wilson Cano tem larga experiência em estudos sobre desenvolvimento econômico, economia brasileira, latino-americana e regional, e neste trabalho apresenta sua visão sobre os processos de desindustrialização e subdesenvolvimento. Para ele, o processo de desindustrialização recente nos países em desenvolvimento é fruto de políticas macroeconômicas dissociadas de políticas industriais e de desenvolvimento, resultando em uma desindustrialização nociva que fragiliza os países e compromete sua economia. Conclui que o subdesenvolvimento é um processo iniciado com a inserção no mercado internacional capitalista no século xix e, deste processo, ele afirma: “ainda não nos libertamos”.
A resenha do livro A construção política do Brasil, de Luiz Carlos Bresser-Pereira, encomendada a José Luis Oreiro ― professor do Instituto de Economia da UFRJ e presidente da Associação Keynesiana Brasileira ―, mostra como, na visão do autor, as coalizões de interesses entre as classes sociais permitem a emergência desses acordos e alianças entre grupos de classes sociais distintas. Colocado desta forma, Bresser-Pereira identifica como força motriz da disputa entre grupos de interesses não o conflito entre capital e trabalho, mas a disputa entre o desenvolvimentismo e o liberalismo econômico, ou seja, duas formas distintas de organização de economias de mercado. A partir desta proposta analítica, Oreiro resenha a interpretação de Bresser-Pereira a respeito da história política do país por Bresser-Pereira, destacando a contribuição do autor ao discutir a incapacidade de sucessivos governos em neutralizar a doença holandesa, levando, no período recente, a um acelerado processo de desindustrialização do país. Oreiro conclui que, pela originalidade e abrangência da obra, trata-se de uma leitura obrigatória em cursos de economia, assim como para todos os interessados no estudo do desenvolvimento econômico, político e social do Brasil.
Carmem Feijó
Editora