Na tarde do dia 29 de de setembro, reunidos no Instituto de Economia da UFRJ, numa iniciativa conjunta com o Centro Celso Furtado, Denise Gentil (IE-UFRJ), José Carlos Braga (IE-UNICAMP), José Maurício Domingues (IESP-UERJ), Eduardo Fagnani (IE-UNICAMP) e Lena Lavinas (IE-UFRJ) debateram as perspectivas para 2015 da política social. Para alguns dos palestrantes, o atual modelo de crescimento não corresponde propriamente a um modelo de desenvolvimento, além de ter subordinado a política social à sua lógica mercantilista.
Da esquerda para a direita: José Maurício Domingues, Eduardo Fagnani, Lena Lavinas,
José Carlos Braga e Denise Gentil.
Foto: Centro Celso Furtado
Esta parece sucumbir a um processo de mercantilização e privatização crescentes, com o comprometimento cada vez maior das despesas das famílias na aquisição de serviços que deveriam ser públicos e de qualidade (65%, segundo noticia publicada naquele mesmo dia no Jornal O Globo). Ademais, existe um processo de financeirização da política social, pois o acesso ao crédito de consumo, notadamente - seja ele crédito consignado ou de varejo - é incentivado por intermédio dos benefícios sociais (previdenciários ou assistenciais), que se tornam, assim, colaterais. Portanto, a política social em vez de desmercantilizar a proteção social, "comodifica-a" e acentua a vulnerabilidade social que deveria atenuar. Isso tem levado a um endividamento das famílias que já compromete 46% de sua renda, segundo dados do Bacen.
Foi consenso que o atual modelo de crescimento, ao deixar de lado o investimento público, que segue extremamente baixo, também coloca em xeque ganhos de produtividade. E, com isso, limita a expansão da política social, notadamente no médio e longo prazo, corroendo a solidariedade intergeracional. Mais do que um modelo novo-desenvolvimentista, os anos recentes do governo do PT revelaram estratégias muito mais próximas do que se pode denominar de "social-liberalismo".
A grande polarização do debate se deu justamente em torno à existência ou não de um modelo singular de crescimento nos últimos 12 anos. Para muitos é questionável a ideia de ter vingado um novo ou social-desenvolvimentismo, dada a permanência de múltiplas desigualdades que persistem e que não foram enfrentadas pelos últimos governos, num contexto econômico mais favorável. Tais desigualdades são persistentes no déficit da oferta de serviços públicos de qualidade e no incentivo a uma sociedade de consumo de massa ainda fortemente heterogênea.
Em seguida, no anfiteatro da UFRJ, ocorreram os lançamentos das obras:
Anos de Formação 1938-1948: o jornalismo, o serviço público, a guerra, o doutorado,
sexto volume da coleção Arquivos Celso Furtado, uma publicação conjunta
Contraponto / Centro Celso Furtado.
Obra Autobiográfica de Celso Furtado, este com o selo da
Companhia das Letras, ambos organizados por
Rosa Freire d'Aguiar.
Percepções sobre desigualdade e pobreza: o que pensam os
brasileiros da política social?, coordenado por Lena Lavinas.
Este livro é quinto volume da coleção Pensamento Crítico,
do Centro Celso Furtado.
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