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Dinâmicas e estratégias das agroindústrias de soja no Brasil de Valdemar João Wesz Júnior


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Novo volume da coleção Sociedade e Economia do Agronegócio
 
A Editora E-papers acaba de publicar o novo volume da série Sociedade e Economia do Agronegócio que integra os produtos derivados da pesquisa homônima envolvendo pesquisadores do  Programa de Pós-Graduação de Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (PPGSA/IFCS/UFRJ), do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional, ligado à mesma universidade (PPGAS/MN/UFRJ) e do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ). A lista completa dos trabalhos e livros do projeto encontra-se disponível no endereço: www.campohoje.net.br . Todos os livros estão disponíveis em formato e-book com acesso gratuito.
 
 
 
 
O livro de Valdemar João Wesz Júnior realiza um amplo resgate do desempenho do setor agroindustrial de processamento de soja no Brasil. Produto de pesquisa maior, com título idêntico ao da coleção publicada pela E-papers, esse trabalho tem o mérito de apresentar as dinâmicas e as estratégias que caracterizaram o ramo de esmagamento de oleaginosas no país, sem recair no bordão do “empreendedorismo”, tão comum na literatura relacionada ao tema. Adotando uma perspectiva que conjuga informação atualizada e análise crítica, o texto apresenta um panorama abrangente do quadro que contextualiza as posições – nem sempre harmônicas – assumidas por um dos elos que integram a cadeia de oleaginosas e seus rebatimentos nos demais segmentos envolvidos na produção de soja e seus derivados. Vale lembrar que tais produtos tornaram-se símbolos daquilo que se convencionou denominar de “agronegócio” brasileiro e que, invariavelmente, tem dispensado, em função do peso dessa “referência”, maiores considerações sobre suas formas concretas de operar, suas configurações locais/regionais específicas, seus encadeamentos intra e intersetoriais, etc.
 
Com efeito, ao recuperar a trajetória dos grupos empresariais que integram a estrutura de beneficiamento da soja e produção de óleos, rações e farelos no mercado brasileiro, o autor aponta, baseado numa razoável quantidade de dados e informações qualificadas, as principais transformações que vem pautando a performance setorial. Sem descuidar das interfaces observadas entre a dinâmica da cadeia e o ambiente macroeconômico do país, Valdemar Wesz Júnior identifica pelo menos três grandes movimentos ao longo dos últimos 15 anos, que poderiam ser aqui resumidos nos seguintes termos: i) o aumento da capacidade instalada e das plantas industriais existentes; ii) um forte processo de concentração econômico-produtiva, vinculado à desnacionalização do capital que atua nesse ramo; iii) o deslocamento geográfico-espacial das 18 | Dinâmicas e estratégias das agroindústrias de soja no Brasil unidades de esmagamento e a nova configuração regional assumida no período recente.
 
Paralelamente à demonstração sobre o crescimento da produção de soja e da capacidade de esmagamento ao longo dos últimos 25 anos, Valdemar Wesz Júnior destaca a forte mudança operada na estrutura de mercado da área de processamento do grão: em apenas dez anos a posição dos grupos empresariais pertencentes ao capital internacional toma a dianteira, forçando um processo de concentração econômica via aquisição de plantas industriais anteriormente de propriedade de famílias brasileiras, além de investimentos em novas plantas, geralmente localizadas nas regiões de expansão do cultivo da soja, que a literatura vem designando como “fronteira agrícola” (isto é, o Triângulo Mineiro entre as décadas de 1970 e 1980; o estado do Mato Grosso na virada dos anos 1980 para os anos 1990; o Oeste baiano, quase no mesmo período; o Sudoeste goiano um pouco depois e, recentemente, a região conhecida como “Mapito” – Maranhão, Piauí e Tocantins, além de algumas áreas na região Norte, como é o caso de Humaitá no Amazonas e Santarém no Pará).
 
Essa mudança tem sido capitaneada fundamentalmente por quatro grupos empresariais estrangeiros, como nos mostra o autor: ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus (vulgarmente conhecido como grupo ABCD). É possível observar que, além da própria alteração da propriedade do capital, houve ainda um intenso processo de relocalização das unidades de processamento ligadas a esses grupos, fortalecendo, a partir dos anos 2000, o eixo central do país, em detrimento da região Sul. Tais transformações foram acompanhadas, inclusive, por novos métodos de relacionamento com os produtores de soja (especialmente no que tange às formas de financiamento da produção, entre as quais são comuns os chamados contratos “soja verde” ou “CPRs – Cédulas do Produto Rural – de gaveta”) e novas táticas de controle da cadeia, seja na produção direta de insumos (adubos e fertilizantes, por exemplo) por fi rmas do mesmo grupo empresarial, seja no estabelecimento de alianças comerciais
com empresas do setor.
 
Diante dessas observações, Valdemar Wesz Júnior preocupa-se em destrinchar as estratégias do Grupo ABCD, trazendo para a cena, Prefácio | 19 adicionalmente, um grupo doméstico em ascensão (Amaggi), ligado à família Maggi, do Mato Grosso. Como boa parte desses movimentos empresariais envolve esse estado em especial, o autor mergulha na caracterização da produção e do esmagamento de soja nessa região e nas respectivas ações industriais aí observadas, incluindo as operações comerciais com o exterior, tendo em vista o forte drive exportador dessa commodity. Enfim, Dinâmicas e Estratégias das Agroindústrias de Soja no Brasil é um livro obrigatório para quem busca uma melhor compreensão do setor, bem como dos novos desafios, conflitos e oportunidades/ constrangimentos nele presentes. Um desses aspectos é, sem dúvida, os impactos dessa expansão produtiva sobre o desenvolvimento sustentável. Outro, seria o reforço de um comportamento pró-primarização na estrutura da pauta de exportações brasileiras. Ambos, para ficarmos nesses dois exemplos, são objeto de forte polêmica entre especialistas e estudiosos do tema. O livro de Valdemar Wesz Júnior contribui decisivamente para qualificar melhor esse debate, apontando suas implicações políticas, econômicas e sociais.
 
Sergio Pereira Leite
 
 
 





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