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Em busca da Comunidade


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SILVA, Fabrício Pereira da. Em busca da comunidade: caminhos do pensamento crítico no Sul global. Rio de Janeiro: Elefante, 2024. 360 p.

| Editora Elefante

 

Como resposta ao generalizado mal-estar social, econômico e ecológico que são consequências da expansão da modernidade, Fabricio Pereira da Silva dá voz a uma busca que é bandeira há muito defendida pelas esquerdas: o anseio por um modo de vida mais justo, equânime, livre dos valores modernos de individualismo, exploração e crescimento econômico inconsequente e desmesurado, a partir do resgate e da releitura de formas de vida pré-capitalistas. Este livro é movido pela urgência de uma utopia que recupere as ideias de comunalidade gestadas na periferia global para inspirar outro tipo de futuro. Em busca da comunidade apresenta um rol de perspectivas teóricas criadas no chamado Sul global, com o intuito de superar uma “monocultura de saberes”. Fabricio Pereira da Silva analisa o socialismo indo-americano de Mariátegui, os conceitos de negritude e de ubuntu, os socialismos africanos do século XX, a ideia de Bem Viver (sumak kawsay/suma qamaña) e a felicidade interna bruta do Butão. Ao “ilustrar a riqueza das propostas da periferia”, o autor nos oferece recursos teóricos outros, capazes de fazer frente à “crise da modernidade, à crise do marxismo ocidental e dos projetos socialistas em chave modernista”.

 

 


 

Apresentação

 

Este livro é, em grande medida, uma história de conceitos periféricos que percorrem temas semelhantes. Uma de suas principais motivações é […] apresentar a riqueza de pensamentos periféricos, sobretudo de projetos periféricos emancipatórios, de uma intelectualidade crítica, de uma esquerda “não ocidental” que (remetendo a Mariátegui) não deve ser “decalque e cópia”, mas “criação heroica”. […] Outra proposta do livro é ensaiar uma modesta reflexão sobre o tempo, enfatizando (para aqueles, como este autor, formados num determinado “futurismo”) que o passado pode nutrir projetos de futuro. Desse modo, é inevitável questionar o tempo histórico da modernidade, do “progresso”, da “evolução”, da “aceleração”, do “sempre em frente”. Mas é possível fazer esse questionamento sem cair no “presentismo”, se o que precisamos é exatamente voltar a ter futuro. E sem que nos refugiemos em qualquer “passadismo” como suposta alternativa. Em meio a sucessivas crises do capitalismo, a uma pandemia, à erosão das democracias, ao esgotamento do planeta, os passados nos servem para projetar novos futuros — enquanto ainda é tempo.

O livro se estrutura da seguinte forma: o capítulo 1 (“A aposta na comunidade”) apresenta alguns debates centrais para sustentar os argumentos aqui desenvolvidos. Mais especificamente, destaca leituras que inspiraram estas páginas. Além disso, aborda dois momentos fundadores das reflexões aqui analisadas: o debate sobre a comunidade nos diálogos entre o populismo russo e Karl Marx, e o recurso ao tema na obra de José Carlos Mariátegui. O capítulo 2 (“A invenção da negritude”) analisa o conceito de negritude como criação do “Atlântico Negro”, a partir das obras de Léopold Sédar Senghor e de Aimé Césaire, bem como de seus críticos, e questiona sobre a possível atualidade do conceito. O capítulo 3 (“Comunalismo nas descolonizações africanas: os socialismos africanos como busca pelo próprio”) aborda os chamados “socialismos africanos” dos processos descolonizadores do continente, em particular as propostas desenvolvidas por Kwame Nkrumah, Julius Nyerere e o já citado Senghor, que defendiam (com argumentos um tanto distintos daqueles da negritude) a potencialidade do comunalismo africano como base para projetos socialistas alternativos.

Nos três capítulos seguintes, são discutidos conceitos que ganharam destaque contemporaneamente. O capítulo 4 (“Ubuntu: a essência africana revisitada”) trata do conceito de ubuntu, seus diferentes usos, sua expansão global e de como ele retoma argumentos presentes nas ideias negras apresentadas anteriormente. O capítulo 5 (“Comunalismo nas refundações andinas do século XXI: o sumak kawsay/suma qamaña”) apresenta o desenvolvimento do conceito que poderia ser (mal) traduzido como “Viver Bem” ou “Bem Viver”. O capítulo propõe uma tipologia dos diversos usos do termo e aponta suas potencialidades. O capítulo 6 (“A felicidade nacional bruta e seu insuspeito potencial transformador”) procura investigar o papel desse conceito como aglutinador do Estado e da identidade nacional butanesa, e seu potencial de assumir (particularmente a partir de sua expansão global) usos até mesmo revolucionários, sobretudo como uma crítica potente às noções hegemônicas de “crescimento”, “desenvolvimento” e “progresso”. Por fim, na conclusão (“A incessante busca pela comunidade”) são retomados argumentos anteriores, de modo a sistematizar algumas conclusões que de fato são “abertas”. Ela aponta mais para projetos futuros e projetos de futuro, em lugar de procurar esgotar quaisquer dos temas aqui abordados.

 



Fabricio Pereira da Silva é professor da graduação e da pós-graduação em ciência política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e do Mestrado em Estudos Contemporâneos da América Latina na Universidade da República (Udelar), no Uruguai. É Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e realizou estágio de Pós-doutorado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Santiago do Chile (Usach). É co-organizador de Os futuros de Darcy Ribeiro (Elefante, 2022) e autor de Democracias errantes: reflexões sobre experiências participativas na América Latina (Ponteio, 2015) e América Latina em seu labirinto: democracia e autoritarismono século XXI (Ponteio, 2019).






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