Anais do CICEF: V Congresso Internacional do Centro Celso Furtado – “Desenvolvimento: conceito, ferramenta e projeto para superação da crise”. n. 1. Rio de Janeiro: Centro Internacional Celso Furtado, 2022. 985 p. ISBN: 978-65-85327-00-8.
O estudo do desenvolvimento constituiu um dos objetos mais relevantes do debate econômico, social e político desde a primeira metade do século XX. Surgido em um momento histórico de constatação dos limites impostos pelo comércio internacional e pela crítica ao modelo econômico pautado no dogma dos mercados autorregulados, no período do entreguerras, a disputa sobre a ideia de desenvolvimento tornou-se por excelência o campo intelectual, político e de alternativas práticas para que os países da periferia tardia do capitalismo, marcados pela herança colonial e pelas restrições da hegemonia primário-exportadora, pudessem construir outras vias para consecução do desenvolvimento e da modernização de suas estruturas socioeconômicas.Em suas trajetórias ao longo deste período, grande parte dos países latino-americanos dialogou ou adotou, em momentos diversos e com força diversa, concepções econômicas alinhadas ao estruturalismo cepalino e mais adiante à teoria da dependência. Como resultado desse processo, surgiu uma nova concepção sobre o lugar e a identidade da periferia pós-colonial, em especial pela consciência de uma formação histórica particular (tema destacado com maestria na obra de Celso Furtado), associada a uma importante inovação epistemológica ao tornar absolutamente transdisciplinar o esforço intelectual de compreensão do tema do progresso e suas conexões e consequências sobre o conjunto da vida social. Em torno do campo do desenvolvimento – que inclui a concepção de subdesenvolvimento, o modelo desenvolvimentista e as experiências nacional-desenvolvimentistas - configurou-se uma robusta e complexa constelação teórico-política que uniu a produção intelectual e os dilemas sociais, ressignificou a ação do Estado, reposicionou as relações geopolíticas, o papel dos trabalhadores/empresários, a questão rural e o mundo urbano, a renda e os direitos, a inovação e a educação, as instituições, o meio ambiente e a cultura no desafio contido nas fronteiras de um projeto nacional que pretendia atingir a autonomia, a sustentabilidade e a soberania.
A constelação que orbita no eixo do desenvolvimento não é estática. Organizou-se por disputas internas e externas, por momentos históricos de maior expressividade e outros de recuo, por modificações em suas teses, objetivos e ferramentas pari passu às transformações mundiais e à dinâmica interna dos países latino-americanos. Nesse quadro, destacamos a longevidade da presença das discussões e projetos alinhados ao campo do desenvolvimento na trajetória brasileira desde as mudanças decorrentes da Revolução de 1930 e permanecendo no horizonte do debate econômico e político até hoje. E, talvez mais atual, necessário e estratégico que nunca. Por um lado, dado o quadro crítico que vivenciamos após o choque provocado pela crise sanitária da Covid-19, pela desaceleração e crise da economia no Brasil e no mundo, pela intensificação dos riscos ambientais e pelo agravamento dos problemas energéticos. De outro ângulo, vivemos um contexto de ameaças à cultura e instrumentos do Estado democrático de Direito, com ascensão de pautas negacionistas e de projetos políticos protofascistas, balcanização do debate na esfera pública e nas múltiplas mídias existentes atualmente, pela defesa de violação de direitos e da vida e pela redução do horizonte de esperanças.
Foi com base nesse cenário e no sentido de urgência histórica que o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento realizou seu V Congresso Internacional com o tema “Desenvolvimento: conceito, ferramenta e projeto para superação da crise”, nos dias 17, 18 e 19 de agosto de 2022.
O V Congresso ocorreu de forma híbrida, parte presencial e parte virtual, sediado no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e tendo como parceiras muitas das instituições que incorporam em sua área de atuação as múltiplas faces do desenvolvimento. Muito nos orgulhou este diálogo e a possibilidade de trabalharmos em rede, nacional e internacional.
A estrutura do V Congresso - "Desenvolvimento: conceito, ferramenta e projeto para superação da crise" - foi desenhada para proporcionar múltiplas arenas de discussão:
Os objetivos lançados e alcançados pelo V Congresso foram:
Para alcançá-los, a comissão organizadora lançou duas atividades novas em relação aos quatro congressos anteriores. Primeiro, os Grupos de Trabalho (GT’s), possibilitando a apresentação de pesquisas acadêmicas em alto nível, tratando dos múltiplos sentidos e facetas do desenvolvimento a partir de eixos temáticos, por meio do recebimento de inscrição de proposta de trabalhos, conforme regras fixadas em edital. Os GT’s contaram com a coordenação de professores e pesquisadores experientes nacionais e estrangeiros, com autonomia para proceder a seleção dos trabalhos submetidos e compor sessões temáticas, que ocorreram integralmente na modalidade remota, em salas virtuais. Foram eles:
A segunda atividade, cumprindo o objetivo de aproximar as pesquisas de estudantes de graduação e graduados sem vínculo com programas de pós-graduação, foi o I Simpósio de Graduação do CICEF. Nesta modalidade, igualmente realizada de forma remota, foram recebidas propostas de comunicação e resumos expandidos em cinco eixos: a) Desenvolvimento e Transdisciplinaridade; b) Desenvolvimento e Políticas Públicas; c) Desenvolvimento, Indústria e Meio Ambiente; d) Desenvolvimento e Regime Político; e) Desenvolvimento, Crescimento Econômico e Distribuição de Renda.
Os resultados do V Congresso foram considerados altamente satisfatórios pela organização. Ao todo, reuniram-se 322 inscritos na plataforma do evento, dentre apresentadores de trabalho, comunicadores e ouvintes (com direito a certificado). Além disto, contou-se com elevada audiência nas lives transmitidas simultaneamente pelo Canal do CICEF no YouTube (Cf. Tabela 4).
Tabela 1 – Inscrições por modalidade.
Quantidade |
Percentual |
|
Ouvinte (alunos de graduação, sócios do CICEF & do COFECON) |
117 |
36,3% |
Apresentador de Trabalho (estudante de pós-graduação) |
75 |
23,3% |
Apresentador de Trabalho (pesquisadores e Professores) |
54 |
16,8% |
Apresentador de Trabalho (sócios do CICEF & do COFECON) |
22 |
6,8% |
Comunicação – Simpósio de Graduação |
19 |
5,9% |
Ouvinte (estudantes de pós-graduação) |
18 |
5,6% |
Ouvinte (pesquisadores e professores) |
17 |
5,3% |
Total |
322 |
100% |
As modalidades com apresentação de trabalho e de comunicação resultaram em 127 propostas, individuais ou em coautoria, expostas em 20 sessões dos GT’s e 2 sessões do Simpósio de Graduação, respectivamente.
Tabela 2 – Inscrições por tipo de exposição.
Exposição |
Total |
Percentual |
Comunicação Oral (pós-graduandos e professores) |
116 |
90,5% |
Simpósio de Graduação (graduandos e graduados sem vínculo com PPG) |
11 |
9,5% |
Total |
127 |
100% |
Outro resultado de extrema importância foi a participação de pesquisadores de outros estados e regiões do país. Abaixo, destacamos os números absolutos e a distribuição a partir de mapa em contraste visual, evidenciando que embora a região Sudeste continue como principal origem dos inscritos, com prevalência de Rio de Janeiro e São Paulo, é possível afirmar que o evento teve abrangência nacional e internacional, com participantes de quase todos os estados do país.
Tabela 3 -Inscrições por cobertura regional.
Região (Brasil) |
Inscrições |
Percentual |
Sudeste |
209 |
64,9% |
Nordeste |
40 |
12,4% |
Sul |
31 |
9,6% |
Centro-oeste |
22 |
6,8% |
Norte |
8 |
2,5% |
Outros Países |
12 |
3,7% |
Total |
322 |
100,0% |
Por fim, cabe quantificar a audiência online, a partir do Canal do CICEF no YouTube (https://www.youtube.com/CentroCelsoFurtado1). Ao todo foram transmitidas 9 mesas, 2 conferências magnas (abertura e encerramento) e 1 painel, variando entre 1 e 2 horas de duração cada. A comunicação síncrona, em tempo real, possibilitou também a permanência assíncrona das discussões em meio online, ficando gravadas e disponibilizadas gratuita e continuamente nas redes, podendo ser compartilhadas em outras plataformas (Cf. Programação). Assim, atendendo à necessidade de difusão da ciência entre pares e para a sociedade.
Tabela 4 – Audiência online.
Atividade |
Duração (h:min) |
Audiência* |
Mesa de Abertura V Congresso (CICEF e IE/UFRJ) |
0:26 |
285 |
Conferência 1 - Duas políticas para superar a quase-estagnação de 40 anos |
1:47 |
434 |
Mesa 1 - As fronteiras do pensamento heterodoxo: modelos de crescimento e crítica à abordagem marginalista |
1:51 |
351 |
Mesa 2 - Cenários de transição para a sustentabilidade da América Latina |
2:00 |
210 |
Mesa 3 - As políticas públicas de recorte regional: teoria e empiria no contexto brasileiro |
1:56 |
220 |
Mesa 4 - Beyond production: labor, trade and policy-space in times of crisis |
1:54 |
137 |
Mesa 5 - A nova geopolítica mundial e o desenvolvimento no Brasil e na América Latina |
1:58 |
241 |
Mesa 6 - Trajetórias intelectuais na América Latina: economia, política cultura e nacionalismo |
1:46 |
197 |
Conferência 2 – Asia's remarkable economic transformation: Learning from a half-century of Development |
1:33 |
162 |
Mesa 7 - Estado, Burocracia e Capacidades Estatais para o Desenvolvimento Nacional |
2:04 |
307 |
Mesa 8 - O papel do Sistema Nacional de Fomento no desenvolvimento sustentável: contribuições do Plano ABDE 2030 |
1:08 |
121 |
Painel COFECON - Desenvolvimento, democracia e projeto nacional – dilemas e perspectivas a partir do Brasil |
1:45 |
358 |
Total |
19:23 |
3023 |
* Audiência total informada pelo YouTube em 18 nov. 2022.
Realizado este breve balanço, basta agradecer mais uma vez a participação generosa e qualificada de todas e todos, expressa nas discussões dos GT’s e Simpósio de Graduação e nos trabalhos submetidos e publicados neste volume.
Boa leitura e até o próximo Congresso!