O estudo do desenvolvimento constituiu um dos objetos mais relevantes do debate econômico, social e político desde a primeira metade do século XX. Surgido em um momento histórico de constatação dos limites impostos pelo comércio internacional e pela crítica ao modelo econômico pautado no dogma dos mercados autorregulados, no período do entreguerras, a disputa sobre a ideia de desenvolvimento tornou-se por excelência o campo intelectual, político e de alternativas práticas para que os países da periferia tardia do capitalismo, marcados pela herança colonial e pelas restrições da hegemonia primário-exportadora, pudessem construir outras vias para consecução do desenvolvimento e da modernização de suas estruturas socioeconômicas.
Em suas trajetórias ao longo deste período, grande parte dos países latino-americanos dialogou ou adotou, em momentos diversos e com força diversa, concepções econômicas alinhadas ao estruturalismo cepalino e mais adiante à teoria da dependência. Como resultado desse processo, surgiu uma nova concepção sobre o lugar e a identidade da periferia pós-colonial, em especial pela consciência de uma formação histórica particular (tema destacado com maestria na obra de Celso Furtado), associada a uma importante inovação epistemológica ao tornar absolutamente transdisciplinar o esforço intelectual de compreensão do tema do progresso e suas conexões e consequências sobre o conjunto da vida social. Em torno do campo do desenvolvimento – que inclui a concepção de subdesenvolvimento, o modelo desenvolvimentista e as experiências nacional-desenvolvimentistas - configurou-se uma robusta e complexa constelação teórico-política que uniu a produção intelectual e os dilemas sociais, ressignificou a ação do Estado, reposicionou as relações geopolíticas, o papel dos trabalhadores/empresários, a questão rural e o mundo urbano, a renda e os direitos, a inovação e a educação, as instituições, o meio ambiente e a cultura no desafio contido nas fronteiras de um projeto nacional que pretendia atingir a autonomia, a sustentabilidade e a soberania.
A constelação que orbita no eixo do desenvolvimento não é estática. Organizou-se por disputas internas e externas, por momentos históricos de maior expressividade e outros de recuo, por modificações em suas teses, objetivos e ferramentas pari passu às transformações mundiais e à dinâmica interna dos países latino-americanos. Nesse quadro, destacamos a longevidade da presença das discussões e projetos alinhados ao campo do desenvolvimento na trajetória brasileira desde as mudanças decorrentes da Revolução de 1930 e permanecendo no horizonte do debate econômico e político até hoje. E, talvez mais atual, necessário e estratégico que nunca. Por um lado, dado o quadro crítico que vivenciamos após o choque provocado pela crise sanitária da Covid-19, pela desaceleração e crise da economia no Brasil e no mundo, pela intensificação dos riscos ambientais e pelo agravamento dos problemas energéticos. De outro ângulo, vivemos um contexto de ameaças à cultura e instrumentos do Estado democrático de Direito, com ascensão de pautas negacionistas e de projetos políticos protofascistas, balcanização do debate na esfera pública e nas múltiplas mídias existentes atualmente, pela defesa de violação de direitos e da vida e pela redução do horizonte de esperanças.