A pandemia de coronavírus (Covid-19) revelou um drama social global sem precedentes. Os impactos negativos nas dimensões econômica, social e política foram significativos em todo o mundo e requereram (e estão a requerer) medidas extraordinárias, inclusive no Brasil. Diante de um problema de saúde pública global, diversas questões de importância fundamental suscitaram um amplo debate sobre as estratégias utilizadas para reduzir os impactos da pandemia e “as reformas radicais para forjar uma sociedade que funcione para todos”, como enunciado pelo jornal liberal Financial Times, em seu editorial de 3 de abril de 2020.
A pandemia tomou formas ainda mais preocupantes à medida que acentuou as desigualdades internas aos países e entre eles, ao mesmo tempo em que concorreu para reascender antigos debates sobre os malefícios e benefícios associados à globalização, além de acirrar conflitos geopolíticos. Diante da possibilidade de outras pandemias globais, muitos especialistas apontam para a necessidade de criar um consenso global sobre os perigos da emergência climática. Paralelamente, a pandemia tem evidenciado a necessidade de reinventar a forma como as sociedades organizam suas redes sociais e produtivas, com adicionais desafios às economias periféricas, distantes da fronteira tecnológica e inseridas de forma subordinada na globalização. Como podemos, então, responder aos desafios decorrentes da pandemia do Covid-19, particularmente no Brasil?
Em um primeiro momento, a disputa de narrativas entre os economistas pareceu dar lugar a um consenso a respeito do necessário papel ativo do Estado. As reações dos diferentes Estados nacionais aos efeitos da pandemia pareciam, então, se assemelhar às reações à grande depressão da década de 1930, com posterior desenvolvimento de um sistema de governança econômica global juntamente com um estado de bem-estar social. Ao transformar a maneira como as pessoas pensavam sobre a economia e a ciência econômica, John Maynard Keynes respondeu aos desafios de sua época e contribuiu para o consenso intelectual de então. Entretanto, é possível identificar a sobrevida de muitos dogmas da ciência econômica dominante, com a propagação de discursos políticos que incitam o retorno às políticas econômicas neoliberais tão logo seja possível retornar à “normalidade”.
No Brasil, depois da forte retração do PIB em 2020, de 4,18%, verificou-se crescimento de 4,97% em 2021. No último trimestre de 2021, contudo, o PIB foi somente 0,5% superior ao do último trimestre de 2019. As perspectivas para 2022, ademais, não são das mais animadoras, tendo se tornando ainda piores depois da invasão russa na Ucrânia, com as estimativas para o PIB oscilando entre 0% e 1%, com a inflação bastante pressionada. A recuperação de 2021 não se sustentou. A economia brasileira, pois, não superou o seu problema crônico do baixo crescimento, agora com pressões inflacionárias. Diante disso, velhos e novos desafios de política econômica têm se colocado no período recente, suscitando a necessidade de um debate capaz de identificá-los corretamente e, a partir disso, ensejar alternativas capazes de viabilizar a retomada do crescimento econômico de forma sustentada no Brasil.
Neste contexto desafiador, a Associação Keynesiana Brasileira (AKB) e o Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento (CICEF), informam a abertura da seleção de artigos científicos para o Dossiê AKB-CICEF: O Brasil pós- pandemia: desafios e alternativas de política econômica.
Esta iniciativa busca contribuições voltadas para a discussão dos desafios econômicos enfrentados pela economia brasileira durante e, principalmente, depois da “coronacrise”. Encorajamos os autores a desafiar ideias consolidadas e contribuir para o debate a respeito das políticas econômicas necessárias para o enfrentamento das fragilidades reveladas e aprofundadas pela referida crise. Os artigos serão particularmente bem-vindos sobre os seguintes tópicos:
1. Crescimento econômico depois da pandemia;
2. Inflação depois da pandemia: natureza, alcance e desafios para a política econômica;
3. Políticas monetária e fiscal pró-crescimento com pressões inflacionárias e riscos de estagnação econômica prolongada;
4. Mercado de trabalho, precarização do trabalho e as desigualdades de gênero e raça;
5. Desigualdades regionais e endividamento dos entes subnacionais;
6. Fluxos internacionais de capitais durante e depois da coronacrise;
7. Efeitos da pandemia sobre as estratégias de internacionalização da produção, falência das instituições multilaterais e “desglobalização”;
8. Cadeias de valor, termos de troca, condições de oferta e inflação;
9. Políticas industriais e Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P&D&I);
10. Desafios à política econômica durante e depois da pandemia;
11. Desafios à política social e alternativas para o desenvolvimento sustentável;
12. Alternativas de política econômica e social para o Brasil pós-pandemia.
Convidamos à submissão de artigos nos temas destacados acima e nos termos apontados abaixo:
Envio de artigos selecionados do tipo short paper, com até 10 páginas, fonte 12, tipo Times New Roman, espaçamento 1,5, com resumo e abstract de até 100 palavras e três palavras-chave;
A proposta de contribuição será enviada para o e-mail da AKB (associacao.keynesiana@gmail.com), com o assunto: Dossiê AKB-CICEF;
Atentem-se para a data-limite de submissão de contribuições: 04/07/2022;
Não há limite de autores nas contribuições, mas cada autor/coautor não poderá ter mais do que duas contribuições;
As contribuições enviadas serão analisadas pelos seguintes membros da AKB e do CICEF: Carlos Eduardo Carvalho (PUC-SP; AKB), Eliane Araújo (UEM; AKB), Júlia Braga (UFF; AKB; CICEF), Marília Bassetti Marcato (UFRJ; AKB; CICEF) e Carlos Pinkusfeld Bastos (UFRJ; CICEF);
Não serão aceitas contribuições já publicadas ou em avaliação em periódicos. Artigos publicados em reuniões científicas e não submetidos e/ou publicados a periódicos podem ser enviados para este Dossiê da AKB.
Maiores dúvidas, contatar a AKB via e-mail: associacao.keynesiana@gmail.com
Campinas, 26 de abril de 2022.
Giuliano Contento de Oliveira
Professor da Unicamp
Presidente da AKB
Anderson Cavalcante
Professor da UFMG
Vice-Presidente da AKB
Carlos Pinkusfeld Bastos
Professor da UFRJ
Diretor-Presidente do CICEF