BARBOSA, Alexandre de Freitas.
Rômulo Almeida, personagem central dessa análise sobre o desenvolvimentismo no Brasil, foi o chefe da Assessoria Econômica da Presidência da República no emblemático segundo governo de Getúlio Vargas. Dessa assessoria nasceram as principais iniciativas voltadas para o desenvolvimento econômico que caracterizaram esse período, como a criação da Petrobrás, e que estabeleceram as bases para o desenvolvimento dos anos seguintes.
Como muitos intelectuais da época, Rômulo formou-se em Direito, na Faculdade de Direito da Bahia, antes de dedicar-se à economia e à administração pública. Em 1941, tornou-se diretor do Departamento de Geografia e Estatística do Território do Acre. Entre 1942 e 1943, foi professor substituto da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas do Rio de Janeiro. Em 1946, prestou assessoria à Comissão de Investigação Econômica e Social da Assembleia Nacional Constituinte, para em seguida estruturar o departamento econômico da Confederação Nacional de Indústria (CNI).
Durante o segundo governo Vargas, liderou a elaboração de vários projetos: o que deu origem à Petrobras, as reformas do setor elétrico, a criação do BNDE (hoje BNDES), do BNB (Banco do Nordeste do Brasil) e da SPVEA (Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia). Muitas das iniciativas de desenvolvimento rural, regional e social, propostas pela Assessoria Econômica, não foram adiante, pois a coalizão de poder impedia a sua viabilização, o mesmo acontecendo com a sua proposta de reforma administrativa. Com o suicídio de Vargas, em 1954, Rômulo Almeida deixou o cargo que ocupava então, o de presidente do BNB, já com a intenção de concorrer a uma cadeira na Câmara Federal, mantendo-se ativo na vida política.
Decifrar os episódios e os sentidos da trajetória de Rômulo Almeida foi o desafio enfrentado pelo historiador e economista Alexandre de Freitas em sua obra. Parte da história de Rômulo, bem como de tantos outros dedicados servidores públicos, e do projeto de desenvolvimento que ele representou tende, até pelo caráter dos personagens envolvidos, a se perder. Daí a necessidade de centrar o foco no papel e na visão de mundo desta camada de pensadores profissionais do planejamento, que ocuparam posições estratégicas no aparato estatal entre os anos 1940 e 1960. Junto com a história de Rômulo Almeida, caminham pares que, em determinado momento, foram nomeados em grupo como os “boêmios cívicos”, caso de Ignácio Rangel, Jesus Soares Pereira e Cleanto de Paiva Leite. E os técnicos e intelectuais do setor público como Celso Furtado, Roberto Campos, Lucas Lopes, San Tiago Dantas, Hélio Jaguaribe e Guerreiro Ramos, que ajudaram a remodelar o Estado brasileiro, em diálogo tenso e intenso com os “intelectuais críticos da academia”, especialmente os sociólogos liderados por Florestan Fernandes, os “intelectuais independentes”, como Caio Prado Jr. e Mário Pedrosa, e os “intelectuais das classes populares” que entram em cena nos anos 1960.
A partir da história do economista baiano Rômulo Almeida, vemos em movimento todo um grupo de grandes nomes, que ocupavam uma posição social geralmente subestimada pela literatura sobre o período: a dos “intelectuais orgânicos do Estado”, que forjaram um projeto-interpretação-utopia de desenvolvimento nacional.