Os latino-americanos têm uma exuberante literatura e, ela, mais do que uma área de estudo, é um instrumento muito poderoso de conhecimento da realidade. Guerreiro Ramos, importante estudioso brasileiro, afirmava categoricamente que os primeiros sociólogos da América Latina foram os literatos, figuras que descreviam com grandeza e perspicácia a realidade do continente. No Brasil pode-se citar autores como Euclides da Cunha e Lima Barreto, que narraram episódios cruciais da vida nacional. Cunha descrevendo Canudos, fazendo estudos sobre as fronteiras nacionais, e Lima Barreto discutindo a cultura e a vida cotidiana de um país que entrava na chamada "modernidade". Obras de imenso valor literário e de profundo conhecimento sobre o país. A literatura, portanto, em toda a América Latina, faz parte da construção da nossa identidade como povo. Por conta dessa riqueza cultural o Instituto de Estudos Latino-Americanos decidiu trabalhar nessa Décima Primeira Edição das Jornadas Bolivarianas o tema Literatura e Política na América Latina, pois era uma lacuna que se apresentava nos nossos estudos.
A literatura, ao contrário de outros campos como a Economia, Sociologia, Filosofia, História e outros, chega à população sem o filtro universitário. Milhões de pessoas se interessam por ela, dispensando a intervenção da universidade que é marcada pelo eurocentrismo, pelo colonialismo e pela indústria cultural. Assim, para nós, passa a ser fundamental discutir esse campo do conhecimento, que é uma forma de expressão da identidade latino-americana, que aparece como uma crítica do passado e do presente, como recuperação da historia comum e projeção de um futuro emancipatório na América Latina.
Tematizar essa relação fecunda/conflituosa entre a literatura e a política tem consequências políticas extraordinárias para a universidade e para o país. Os autores latino-americanos são reconhecidos em todo o mundo por sua qualidade, mas isso é o menos importante. O que nos leva a essa jornada de debates é conhecer a explosiva relação daquilo que os escritores levantam como realidade local, nacional e continental para que posamos pensar um futuro melhor.
Nesse sentido, a XI Edição das Jornadas Bolivarianas convoca renomados intelectuais e literatos da América Latina que dedicam sua vida intelectual à analise da estreita e conflituosa relação entre o surgimento de uma literatura genuinamente latino-americana e os grandes antagonismos que marcam a evolução de nossas sociedades. Escritores como Gabriel Garcia Marques, Lima Barreto, Rodolfo Walsh, Elena Poniatowska, Jorge Amado, Oswald de Andrade, entre outros, terão suas obras analisadas levando-se em consideração não apenas o valor literário do trabalho, mas a capacidade que tiveram de narrar a realidade, colocando a nu problemas nacionais que acabaram se universalizando pela força de suas narrativas.
Nosso evento pretende não somente os resultados que consideramos correntes, ou seja, a publicação de um livro com as conferências que expressem a riqueza da relação entre a literatura e a política latino-americana, mas também o fortalecimento dos estudos dessa área dentro do Instituto e da Rede Brasileira de Estudos Latino-Americanos (REBELA) que construímos há vários anos, envolvendo pesquisadores de nove universidades brasileiras, e cuja revista está qualificada no Qualis da CAPES.
Será igualmente útil esse evento, para o IELA, para Santa Catarina e para o país, na medida em que teremos entre nós os principais intelectuais do continente dentro dos estudos literários, além de escritores reconhecidos mundialmente, o que possibilitará mais qualidade aos trabalhos de pesquisa que desenvolvemos, bem como os que desenvolvem os alunos ligados aos grupos de estudo do Instituto.
Todas as atividade acontecem no Auditório do Centro Sócio-Econômico/UFSC.