Roberto Saturnino Braga
Diretor-presidente do Centro Celso Furtado
Lamentando a asfixia monetarista imposta à Grécia, belos artigos têm sido escritos. Ora na perspectiva do debate econômico, condenando o velho monetarismo de Chicago, ora deplorando a humilhação de um povo que deu ao mundo ocidental o que ele tem de mais precioso, a filosofia e a democracia.
Embora se devam compartilhar essas críticas, não parece, entretanto, que se encontrem nessas perspectivas os principais motivos de decepção do mundo com o tratamento de arrocho dado à Grécia pelos países fortes da Europa, pelos alemães, diga-se bem claramente.
A decepção maior é com o menoscabo dos alemães, logo dos alemães, em relação ao espírito de harmonia e de solidariedade que, segundo uma benfazeja visão do porvir, presidiu a criação do bloco de nações daquele velho continente exausto pelos séculos de guerras.
Nesta vertente mais relevante de apreciação da crise da Grécia, uma voz se elevou na França, em tom de liderança política das mais destacadas: a voz brilhante de um velho líder socialista francês, que era tida como extinta depois de sua passagem pelo FMI e dos escândalos pessoais que protagonizou, a voz de Dominique Strauss-Kahn, quem diria. Que escreveu uma carta aberta aos seus amigos alemães em termos dignos de se registrarem como históricos, tal a veemência, a elevação e a clarividência. De repente, o mundo se lembrou que DSK era uma das maiores figuras do PS francês, em sequência a François Mitterrand, ao lado de Michel Rocard. E está bem vivo, como demonstra neste documento que clama pelo sentimento político originário do grandioso e pioneiro projeto da União Européia acima das velhas nações, o sentimento de harmonia e solidariedade entre todos aqueles povos que se estraçalharam em guerras mas forjaram a cultura de todos nós, ocidentais de hoje.
Um documento que evoca o pensamento de Habermas, o filósofo alemão de hoje que mais destacadamente aponta o futuro da democracia no mundo, fundada no diálogo igualitário, o diálogo que faz emergir a razão comunicativa, capaz de se sobrepor à velha razão positivista e construir acordos e consensos entre confrontantes. Um documento que nos toca particularmente, na medida em que fala da América do Sul como um continente que busca autonomia em relação ao Norte e ensaia os passos de uma união, a UNASUL, inspirada no projeto europeu original.
Por todas essas razões, em adesão ao espírito de harmonia e solidariedade internacional que presidiu a criação da União Europeia, e que é o mesmo que encaminha a UNASUL em seus primeiros passos, o Centro Celso Furtado toma a iniciativa de publicar no seu site a Carta Aberta de Strauss-Kahn, generosamente traduzida pelo nosso companheiro de sempre, Pedro de Souza, e enviá-la a todos os seus associados e interessados.
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