Editorial
O número 26 de Cadernos do Desenvolvimento, comemorativo do centenário de nascimento de Celso Furtado, integra o conjunto de homenagens de centros acadêmicos e instituições públicas que, no Brasil e ao redor mundo, celebram o legado do nosso maior nome na área das ciências sociais.
Celso Furtado é o economista brasileiro de maior projeção acadêmica internacional, referência mundial na teoria de desenvolvimento estruturalista. Além de acadêmico reconhecido, tendo lecionado em diversos países, foi homem público com contribuições destacadas na adminstração nacional e em organismos internacionais. Neste número, prestamos nossa homenagem a Celso Furtado, que com seus escritos tanto contribuiu para o entendimento da realidade sócio-econômica dos países em desenvolvimento.
A seleção de artigos neste volume, todos inéditos, é o resultado de uma chamada pública para a qual concorreram mais de trinta artigos do Brasil e do exterior. O grande interesse em pesquisar a obra de Furtado é uma mostra da força do seu pensamento no contexto atual de grandes transformações no Brasil e no mundo. Podemos dizer que, mais do que nunca os ensinamentos de Celso Furtado, ampliados pelas contribuições de acadêmicos dedicados ao estudo da superação do subdesenvolvimento e das desigualdades sociais, se fazem necessários.
Este número se inicia com a abertura de Roberto Saturnino Braga, diretor-presidente do Centro Celso Furtado, e de Flávia Vinhaes, presidente do Corecon-RJ que co-patrocina este número, seguido de um pequeno texto do professor emérito da Universités Centre d’Economie de Paris-Nord- CEPN, Pierre Salama, dando seu testemunho sobre o convívio com Celso Furtado na Sorbonne, de quem foi aluno e posteriormente assistente.
Dos artigos selecionados, os quatro primeiros, de autoria de Gentil Corazza (Universidade Federal do Rio Grande do Sul); de Carlos Mallorquin (Universidad Autónoma de Zacateca, México); de Raimundo Santos (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e de Antônio Mendoza Hernandez (Universidad Autónoma Metropolitana–Iztapalapa, México), tratam da gênese histórica das ideias econômicas e políticas de Furtado. Os quatro seguintes, de André Bojikian Calixtre (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e Daniela Freddo (Universidade de Brasília); de Flaviana Cândido Oliveira, Fernando Augusto Mansor de Mattos e Danielle Carusi (Universidade Federal Fluminense); de Marcos Falleiro e Luciane Franke (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e de Adrianno Oliveira Rodrigues e Igor Passinho da Silva (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), expandem e atualizam a contribuição de Furtado sobre a apropriação da renda e a questão nordestina no processo de desenvolvimento brasileiro. Os três artigos seguintes, de Isadora Pelegrini e Ronaldo Herrlein Jr. (Universidade Federal do Rio Grande do Sul); de Gregorio Vidal (Universidad Autónoma Metropolitana, Unidad Iztapalapa, México) e de Jose Ramon Garcia Menéndez (Universidad de Santiago de Compostela, Espanha), abordam a questão do desenvolvimento considerando a inserção assimétrica das economias em desenvolvimento no sistema financeiro internacional moderno, o que exige um ‘enfoque cultural’, nas palavras de Menendez, para o entendimento dos dilemas postos ao processo de superação do atraso econômico. Por fim, os cinco últimos artigos, de Carlos Medeiros (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e Fernando Sarti (Universidade Estadual de Campinas); de Helena M. M. Lastres e José E. Cassiolato (Universidade Federal do Rio de Janeiro); de Gilberto Maringoni e Fernanda Graziella Cardoso (Universidade Federal do ABC); de Vinicius Zuniga Fagotti (Scuola Superiore Sant’Anna e Università di Pisa, Itália), Arthur Gomes Moreira (Science and Technology Policy Studies, Sussex, Inglaterra), Marcelo Arend (Universidade Federal de Santa Catarina) e Glaison Augusto Guerrero (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e de Antônio Corrêa de Lacerda (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e Julio Manuel Pires (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e Universidade de São Paulo-Ribeirão Preto), concluem a série de artigos tratando, com abordagens diferentes, dos desafios tecnológicos do desenvolvimento e como pensar o futuro à luz dos ensinamentos de Furtado.
A entrevista deste número especial é com a jornalista e tradutora Rosa Freire d’Aguiar, viúva de Celso Furtado. Como herdeira dos arquivos de Celso Furtado, desde seu falecimento em 2004, tem se dedicado a publicar documentos relevantes dos arquivos pessoais de Celso Furtado, na forma de livros, além de reeditar toda sua obra. Em 2019, já no âmbito dos preparativos do centenário, Rosa lançou os Diários Intermitentes de Celso Furtado: 1937-2002, registros pessoais de Celso Furtado ao longo da vida. A resenha dos “Diários Intermitentes”, de autoria do professor Fábio Guedes Gomes, integra este volume dos Cadernos do Desenvolvimento.
Boa leitura. Junho de 2020
Carmem Feijó
Editora