A corrente marxista ocupa uma posição marginal nos debates tradicionais sobre Relações Internacionais. Quando não ausente, aparece diluída em outros matizes de pensamento, incluída no campo residual das teorias críticas. Porém, desde o início dos estudos das RI, no período do pós-Primeira Guerra Mundial, os estudos marxistas (e as lutas revolucionárias) se voltavam à temática internacional com, por exemplo, as teorias clássicas do imperialismo. Já no pós-1945, as reflexões teóricas e as lutas avançaram para além da Europa, com as teorias da dependência na América Latina, e os movimentos de descolonização e de autodeterminação, sobretudo, na África e na Ásia. A emergência da periferia enquanto centro de resistência e de transformação marca as discussões sobre desenvolvimento e subdesenvolvimento, divisão internacional do trabalho, as leituras da formação histórica do sistema capitalista, até os atuais debates sobre globalização, empresas multinacionais, a natureza e papel do Estado no capitalismo, hegemonia, contra-hegemonia e o império americano. Tudo isso compõe o vasto horizonte marxista de pensamento sobre a esfera internacional, formando os elementos para a desta área de conhecimento.
Desde os anos 1970, pesquisadores latino-americanos e brasileiros se tornaram figuras de destaque na corrente marxista da Teoria da Dependência e na Teoria do Sistema-Mundo. Contudo, isso não levou a uma assimilação mais sistemática e profunda na academia brasileira das proposições dessas teorias. A ausência da perspectiva marxista como paradigma legítimo das Relações Internacionais enfraquece a capacidade de elaboração de alternativas para a atuação internacional de um país dependente, como o Brasil. Esta limitação é, ao mesmo tempo, causa e efeito de uma identificação da intelectualidade de Relações Internacionais e dos operadores de política externa brasileira com o centro hegemônico estadunidense, sua teoria e prática, sendo uma barreira à construção de uma nova identidade profundamente latino-americanista, terceiro-mundista e ligada às causas populares de todo o mundo.
O desenvolvimento do campo marxista pode impactar sobre a área no Brasil em múltiplos aspectos. Por suas características intrínsecas, o marxismo enfatiza o aspecto histórico e a possibilidade de transformação das estruturas internacionais. Por romper com a compartimentalização do conhecimento, ele é capaz de confluir a Economia Política Internacional, as Teorias de Relações Internacionais e a Geopolítica. Ademais, o marxismo transcende o campo da teoria, tendo um papel político, o qual é indissociável do científico: a inclusão de perspectivas que emergem dos setores explorados e oprimidos. O marxismo vai além de outras correntes críticas, que apontam, corretamente, a inexistência de neutralidade axiológica nas Relações Internacionais. Ele assume organicamente um compromisso ao teórico e político com os oprimidos do mundo.
A construção de um campo marxista nas Relações Internacionais no Brasil coloca-se hoje como necessidade. Com o objetivo de supri-la, o Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Relações Internacionais (LIERI), da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, e o Laboratório de Estudos sobre Hegemonia e Contra-hegemonia (LEHC), da Universidade Federal do Rio de Janeiro, organizam o colóquio “Relações Internacionais e Marxismo”.
Este colóquio terá, como desafio, a construção de uma unidade na diversidade de concepções marxistas. Há elementos de convergência, tanto teóricos, como metodológicos e políticos. Ainda que existindo leituras distintas, há um conjunto conceitual que aproxima e estabelece pontos mínimos de contato, como a dependência, a hegemonia e o imperialismo. Neste sentido, ressalta-se a convergência do evento com o calendário internacional de comemorações dos cem anos de lançamento da obra seminal para as Relações Internacionais, O Imperialismo, etapa superior do capitalismo, de Vladimir Lênin e a menos de um ano do centenário da Revolução Russa.
CHAMADA PARA ARTIGOS
Um evento que pretende à construção de um campo teórico-político exige uma profundidade reflexiva, que se expressará não só nos dois dias do evento, mas na discussão e circulação prévia dos textos produzidos pelos participantes. Por isso, abrimos desde já a chamada para o envio dos resumos/abstracts ou resumidos expandidos, com o prazo limite de 15 abril de 2016.
Os trabalhos poderão variar entre diferentes temas nos eixos Tópicos das Relações Internacionais sob o prisma marxista (incluindo-se entre estes, mas não os esgotando, a Teoria das Relações Internacionais, Política Externa Brasileira, Geopolítica e Integração Regional) e Análises marxistas da ordem mundial (abordando conceitos e perspectivas da tradição marxista, como Imperialismo, Dependência, Sistema-Mundo, Hegemonia, Bolivarianismo, entre outros).
Os resumos/abstracts deverão contar com no máximo 200 palavras e os resumos expandidos com no máximo 1000 palavras.
Propostas deverão ser enviadas em formato word para o e-mail: rimarxismo@gmail.com
MEMBROS DO COMITÊ CIENTÍFICO
Prof. Dra. Ana Saggioro Garcia (LIERI/UFRRJ)
Prof. Dra. Mayra Goulart da Silva (LIERI/UFRRJ)
Prof. Dr. Muniz Ferreira (LIERI/UFRRJ)
Prof. Dr. Luiz Felipe Osório (LIERI/UFRRJ)
Prof. Dr. Carlos Eduardo Martins (LEHC/UFRJ)
Prof. Me. Carlos Serrano Ferreira (LEHC/UFRJ)
Prof. Me. Miguel Borba de Sá (IRI/PUC-Rio)
Prof. Dr. João Márcio Mendes Pereira (Pós-graduação de História, UFRRJ)
Organização: LIERI/UFRRJ e LEHC/UFRJ
Apoio: Centro Celso Furtado