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Desenvolvimento e Financiamento
Por Carlos Pinkusfeld Bastos
janeiro 12, 2025

A Política Industrial está em ascensão. A frase é de um banqueiro, mas não de um banco de desenvolvimento, e sim do ex-presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, no relatório “O futuro da competitividade europeia”, publicado em setembro de 2024.

Não é a primeira, e certamente não a última vez, que políticas de desenvolvimento mais intervencionistas voltam ao centro do debate público. Aliás, a própria história do pensamento econômico é testemunho desses “ciclos”.

A Economia Política Clássica tem em William Pety uma figura seminal ao trazer o conceito de excedente como componente analítico central. Como gerar um maior excedente, que permitiria uma ampliação da própria capacidade produtiva, a qual dependendo da sua apropriação, ou da classe que dele se apropriava, e sua utilização. Petty na sua Aritmética Política calculava uma divisão de classes/funções, ou, poderíamos dizer, do trabalho que permitiria exatamente um crescimento do produto e assim do bem-estar.

O clássico de Adam Smith trata da Riqueza da Nação; não uma análise da escassez, mas como gerar abundância ou como a expansão de mercados domésticos e externos gera escalas que permitem a divisão do trabalho e assim a mecanização.

Essa tradição foi interrompida com a transformação da abordagem marginalista no mainstream da teoria econômica. A maximização de um elemento subjetivo, como a utilidade individual, dada uma dotação, ou escassez, de fatores de produção e uma visão atomizada das unidades produtivas, passa a ser o foco da análise econômica. Nesta abordagem, já no século XX, a participação do Estado na economia estaria condicionada a “falhas de mercado”, ou situações muito específicas nas quais a interação de agentes de mercado não conseguisse ser eficiente (eficiência esta definida pelo critério de Pareto).

O pêndulo da análise econômica sofre uma inflexão na metade do século XX, motivado pela necessidade de encontrar trajetórias de avanço acelerado das nações mais pobres, aí incluídas países que se emancipavam do jugo colonial; criar uma expectativa real de melhoria das condições materiais das populações destes países que pudesse se antepor à atração do modelo socialista.
Nasce a chamada Teoria do Desenvolvimento clássica de autores como Arthur Lewis, Ragnar Nurkse, Rosenstein Rodan, Hirschman e Myrdal. Na América Latina, por sua vez, surge a chamada escola da Cepal de Raul Prebisch e Celso Furtado, com sua original análise de Centro e Periferia.
A crise dos anos 1970 e a virada neoliberal a partir dos anos 1980 enfraquecem tanto academicamente quanto em termos de política econômica políticas de natureza mais intervencionista e, especialmente, políticas de fomento ao desenvolvimento industrial.

Ao se findar o primeiro quarto do século XXI, obviamente que com novas particularidades, estas políticas estão de volta e, novamente, fatores históricos, socioeconômicos e geopolíticos jogam um papel fundamental neste renascer. A recente pandemia da Covid-19, a ascensão da China como nova potência econômica e mesmo a turbulência política internacional são alguns destes elementos, mas, sem dúvida, a prioridade para a própria humanidade são políticas ligadas à transição energética e produtiva capazes de evitar o contínuo aquecimento global.

Assim, discutir os desafios brasileiros e globais e formas de enfrentamento que partem de uma participação ativa do Estado é um tema inadiável. O BNDES, como protagonista do nosso desenvolvimento ao longo da história, se une ao Centro Internacional Celso Furtado para chamar ao debate nossos profissionais da área de Economia e afins quanto tanto a emergência quanto a dimensão dos desafios que temos que ser capazes de enfrentar.

O livro Seminários sobre Desenvolvimento e Financiamento , que serve de base para um curso ministrado pelos autores dos seus capítulos, traz três capítulos que se complementam, iniciando por uma discussão ampla sobre teoria e pratica do desenvolvimento, tanto nas abordagens tradicionais quanto nas contribuições mais contemporâneas de complexidade econômica, seguido pela exploração do caso brasileiro, ou especificamente, como o BNDES participou de forma decisiva nas várias inflexões de política econômica desde sua fundação, e termina com exercícios de mensuração dos custos e resultados de créditos públicos.

A discussão de tais temas de forma fundamentada e objetiva é, nos dias de hoje, não apenas uma prioridade nas agendas de política econômica dos países centrais, mas uma discussão inescapável que garante que possa se construir um futuro mais sustentável em termos ambientais e socio politicamente justo e democrático.

Leia o livro Seminários sobre Desenvolvimento e Financiamento