Nos últimos 10 anos, a economia brasileira passou por significativas oscilações em sua taxa de crescimento. Como podemos ver no Gráfico 1, foram dois anos fortemente recessivos – 2015 e 2016 -, seguidos por uma fraca recuperação em 2017, 2018 e 2019. Em 2020, novamente houve uma queda acentuada no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) (-3,57%), porém, dessa vez, seguida de uma recuperação em “V” no ano de 2021. Ainda assim, a taxa média de expansão no biênio 2020-2021 ficou abaixo da que foi registrada nos três anos anteriores (1,5%).
Gráfico 1 – Taxa anual de crescimento do PIB (%)
Fonte: IBGE, s./d. Elaboração dos autores, 2024.
A partir de 2022, passado o período pandêmico, os dois anos seguidos de crescimento em torno de 3% parecem sinalizar um novo patamar para o desempenho agregado da economia. Em termos históricos, trata-se de uma variação percentual levemente acima da média de longo prazo, que, desde o início da década de 1980, situa-se na faixa de 2,5% a.a. A despeito disso, o nível recente da taxa de variação do PIB manteve-se inferior à média anual de 4,5% verificada no último período de crescimento mais acelerado no país: 2004 a 2011.
Dessa forma, a pergunta que se coloca na conjuntura atual é se a economia brasileira terá fôlego para se manter, no ano corrente (2024), nesse aparente novo patamar de crescimento, ou mesmo, superá-lo. O Primeiro Relatório “Boletim Fiscal dos Estados Brasileiros” pretende avaliar essas questões, sobretudo a partir da análise do comportamento de alguns componentes da demanda, aqui considerados centrais para a determinação do desempenho econômico agregado.
As variáveis da demanda que serão analisadas especialmente no exercício de simulação no relatório se enquadram em dois critérios: i) autônomas em relação à renda corrente; ii) induzidas pelo próprio desempenho corrente da economia, a exemplo de boa parte do consumo dos estratos da população que se sustentam a partir das rendas salariais. Em qualquer dos casos, é importante buscar compreender os componentes que explicam o seu comportamento. A análise cuidadosa da conjuntura que condiciona essas despesas é crucial para a formulação das hipóteses que servirão como fundamento para a computação da simulação proposta.
No que diz respeito às variáveis que consideramos apresentar maior autonomia em relação à renda corrente – por exemplo, a expansão do crédito aos agentes privados -, o relatório buscará um maior refinamento na projeção para a sua evolução no restante do ano de 2024. Isso será feito a partir de uma análise estatística e econométrica, que permitirá identificar as categorias de crédito que se mostram mais autônomas em relação ao nível de atividade da economia. De forma indireta, esse procedimento consiste em uma avaliação sobre o impacto da política monetária no comportamento dessas variáveis de maior autonomia e, consequentemente, da economia como um todo.
As expectativas mais pessimistas acerca do desempenho da economia no ano corrente vêm se mostrando infundadas. De acordo com os pressupostos aqui assumidos, tal performance não é, todavia, tão surpreendente. A análise dos dados já disponíveis e um exercício de projeção para o restante do ano de 2024 nos permitem inclusive especular se o atual momento não poderia levar a taxas ainda mais elevadas de crescimento econômico.
À parte a introdução, o relatório está organizado em outras cinco seções. Na seção 2, é feita uma exposição factual sobre os componentes do crescimento do PIB, tanto pelo lado da oferta, quanto da demanda, conforme os dados disponibilizados nas Contas Nacionais Trimestrais do IBGE e demais pesquisas mensais específicas. A seção 3 apresenta uma discussão sintética acerca das hipóteses consideradas explicativas do comportamento das categorias da demanda, buscando relacioná-las ao esquema analítico que servirá como base para o exercício de simulação do crescimento. Na seção 4, as hipóteses assumidas e as projeções de crescimento para 2024 são detalhadas. A seção 5 tem como objetivo explorar mais a fundo os dados das finanças estaduais, tanto em termos de sua evolução geral, quanto da comparação mais detalhada entre as diferentes unidades da federação. Por fim, a última seção se volta às considerações finais.