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Carta do professor Celso Furtado


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 Rio de Janeiro, 5 de julho de 2004

 
Excelentíssimo Senhor Presidente,
 
 
Permita-me expressar meus agradecimentos pelas referências honrosas feitas, em seu discurso na sessão inaugural da Unctad-XI, à minha atuação como servidor público. Cedo me convenci de que ao Estado nacional cabe exercer papel decisivo na construção, sempre ameaçada de interrupção, deste grande país que é o Brasil. 
Estaremos cometendo um erro histórico de graves consequências se nos negarmos a reconhecer que o declínio dos Estados nacionais — agentes da vontade coletiva — tem como consequência inescapável maior concentração do poder econômico em escala mundial. Esse problema se apresenta com particular gravidade em países dotados de um grande potencial de desenvolvimento, caso do Brasil. Definir uma política de desenvolvimento para um país-continente significa necessariamente comprometer o destino das gerações futuras. Essa perspectiva não deve, porém, conduzir o governante ao imobilismo, e sim à transparência nos atos governamentais de alcance estratégico. 
É importante que o Brasil assuma a liderança nessa confrontação entre economias desenvolvidas e subdesenvolvidas. Sendo o país dotado do maior potencial de desenvolvimento, é inevitável que contra ele se formem as maiores coligações de forças que defendem a suposta ordem mundial da atualidade. Partindo dessa constatação, considero muito feliz a idéia de Vossa Excelência de criação de um centro internacional voltado para o estudo dos problemas do subdesenvolvimento. Economias desenvolvidas e subdesenvolvidas requerem tratamentos distintos. Não podemos ignorar a especificidade do subdesenvolvimento, do contrário estaremos condenados a sobreviver no quadro da dependência que tão bem conhecemos. 
Prontificando-me a servi-lo na nobre luta em que Vossa Excelência está empenhado pelo desenvolvimento do país e pela preservação de nossa independência nacional, subscrevo-me respeitosamente,
 
 
Celso Furtado





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