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Coleção Arquivos Celso Furtado nº 3


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O Nordeste e a saga da Sudene (1958-64)
Celso Furtado
Rio de Janeiro: Centro Celso Furtado / Editora Contraponto, 2009
283 páginas
ISBN: 978-85-7866-021-5
 
 Estão reunidos neste número cinco textos e uma entrevista de Celso Furtado, além de notas de Albert Hirschman, um depoimento de Francisco de Oliveira e um artigo de Marcos Costa Lima.
 
 
Em Formação econômica do Brasil, escrito em Cambridge e publicado em 1959, Celso Furtado interpretou magistralmente a paradoxal dinâmica de longo prazo do “complexo econômico nordestino”. A secular crise do setor açucareiro e a gradativa expansão de uma pecuária extensiva, sujeita à lei dos rendimentos decrescentes, haviam condenado a região a um processo de involução econômica, uma decadência sem transformação.
     
De volta ao Brasil, Furtado compreendeu a urgência de enfrentar o problema. O Sudeste se industrializava, enquanto o Nordeste se consolidava como a grande “área problema” do hemisfério ocidental. Com trajetórias tão divergentes, a própria unidade nacional poderia ser questionada, a longo prazo. Havia uma nova questão regional no Brasil.
     
O assistencialismo e as obras emergenciais contra as secas, que prevaleciam desde o século XIX, precisavam ser substituídos por uma política de reformas estruturais e de estímulo a atividades compatíveis com as especificidades da região. Tratava-se, antes de tudo, de criar uma economia resistente às secas, deslocar a fronteira agrícola na direção de terras mais úmidas, garantir o abastecimento de alimentos das cidades e promover a industrialização. Nem o livre jogo dos mercados nem os órgãos governamentais existentes, controlados pelas oligarquias, dariam conta desses desafios.
     
Era preciso implantar no Nordeste o moderno Estado desenvolvimentista. Seu embrião seria uma nova instituição de elevado nível técnico, preservada de ingerências da pequena política e voltada para o desenvolvimento regional. Ela deveria ser capaz de identificar e selecionar projetos, fixar capitais, ampliar o crédito, criar economias externas, implantar um sistema de incentivos, formar pessoal, realizar pesquisas e apoiar reformas estruturais.
     
Com o apoio político do presidente Juscelino Kubitschek e a liderança intelectual e moral de Celso Furtado, começou a Operação Nordeste, que deu à luz a Sudene. Não foi uma batalha fácil. As oligarquias locais não estavam acostumadas a lidar com um técnico da estatura de Furtado, logo chamado de comunista, é claro, duramente combatido e finalmente alijado do centro de decisões com o golpe militar de 1964. Mesmo assim, os frutos do seu trabalho não se perderam. Depois de seus estudos e de sua intervenção, o Nordeste nunca mais foi o mesmo.
     
Este volume dos Arquivos Celso Furtado, publicado pelo Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento e a Editora Contraponto – o terceiro de uma série prevista para doze – recupera documentos fundamentais da “saga da Sudene”, com cinco textos e uma entrevista do próprio Furtado, notas de Albert Hirschman, um depoimento de Francisco de Oliveira e um artigo de Marcos Costa Lima. Torna-se, assim, um volume imprescindível para a reconstituição de uma parte da história recente do Brasil. (CÉSAR BENJAMIN)





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